No dia 27 de outubro aconteceu em São Paulo, no Memorial da América Latina, o concurso brasileiro mais importante para nossos queijos artesanais, o III Prêmio Queijo Brasil. O concurso, organizado pela COMERQUEIJO (Associação de Comerciantes de Queijos Artesanais Brasileiros), obteve 403 queijos inscritos, divididos em 3 categorias:
- Artesanais tradicionais (85);
- Artesanais produzidos com leite cru não tradicionais (191); e
- Artesanais produzidos com leite pasteurizado (127).
Com a utilização de um modelo aplicado nos concursos de queijos artesanais dos Estados Unidos, trazido por Daniel Strongin, o concurso teve um verdadeiro upgrade com relação às versões anteriores. O novo modelo contempla duas equipes de julgadores: julgadores técnicos e julgadores sensoriais. A equipe de julgadores técnicos foi coordenada por mim e avaliou os defeitos técnicos no queijo, como estufamento precoce e tardio, aromas e odores desagradáveis e rachaduras, retirando pontos quando os problemas eram detectados, iniciando a partir de 50 pontos. Já a equipe de julgadores sensoriais foi coordenada por Daniel Strongin e avaliou os aspectos agradáveis dos queijos como aspectos visuais, textura e intensidade de aromas e sabores, de acordo com cada tipo de queijo, acrescentando pontos de acordo com cada característica, iniciando a partir de 0 pontos. Os pontos dos jurados técnicos e sensoriais foram somados e os queijos foram classificados de acordo com a pontuação obtida em bronze, prata e ouro. Os queijos que obtiveram a maior pontuação em cada categoria ainda receberam uma medalha super ouro.
jurados técnicos e organizadores do concurso na loja Mestre Queijeiro (foto de iqueijo.com)Antes do julgamento, os jurados receberam treinamento sobre todo o processo de avaliação e, por experiência das versões anteriores, em que alguns queijos tradicionais brasileiros tiveram pontuações baixas devido ao desconhecimento dos jurados sobre esses queijos, neste concurso os julgadores provaram e aprenderam as diferentes características dos principais tipos de queijos brasileiros para que as avaliações desses queijos fossem realizadas de forma justa, respeitando suas peculiaridades. O resultado da mudança da forma de avaliação dos produtos foi surpreendente pois tivemos como medalhistas queijos que anteriormente sequer conseguiam medalhas de bronze, como os queijos Fresco do Minas Artesanal do Cerrado (produtor Wellington Casquinha), Coalho do Seridó (produtor Lucenildo Firmino de Souza), Kochkase (produtores Regina Ittner e Maria dos Santos), Queijinho (produtor Samuel Baldo), Manteiga (Geraldo P. de Morais) e o Cabacinha ( produtor José Alves).
Pedro (SEBRAE), Daniel Strongin, Lucenildo de Souza e Michelle Carvalho – Entrega medalha de ouro para produtor do Queijo Coalho do Seridó Sr. Lucenildo Firmino de SouzaEsses resultados deixaram um grande aprendizado para todos da organização, de que precisamos conhecer nossos queijos tradicionais. Só em eventos como esse, onde se valoriza produtos nacionais, é possível realmente apoiar e fortalecer o queijo artesanal brasileiro, inclusive, os produtores também receberão o feedback acerca dos resultados das avaliações, incentivando a melhoria de seus queijos. Ouvi de uma chef francesa que brasileiro não sabe fazer queijo e que o queijo brasileiro era muito salgado.???
Os brasileiros sabem sim fazer queijos, queijos brasileiros, adaptados para o paladar de cada região de nosso país!
A diversidade dos queijos brasileiros é imensa e precisamos conhecê-la, temos desde queijos feitos sem sal (como o queijinho) a queijos ligeiramente salgados (como alguns queijos coalho), tudo vai depender de quem os consomem e para que os utilizam. Devemos aprimorar cada vez mais a qualidade de nossos queijos, especialmente no que se refere à matéria prima (leite), e, principalmente, valorizar o que é nosso, nosso patrimônio cultural. Temos queijos sensacionais que muitos desconhecem e os resultados do concurso Prêmio Queijo Brasil é a prova disso. Precisamos conhecer para valorizar. E você? Quantos queijos artesanais brasileiros conhece? Junte-se a nós! #salveoqueijoartesanal
Michelle Carvalho é Consultora de Laticínios, graduada em Ciência e Tecnologia de Laticínios pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Especializou-se em pesquisas com Queijos artesanais com mestrado em Desenvolvimento Rural Sustentável pela Universidade do Oeste do Paraná (UNIOSTE) e atualmente é mestranda em Ciência dos Alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É membro do Movimento Slow Food Brasil e luta pela legalização dos Queijos artesanais brasileiros.